quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Elogio à Loucura

Já alguém sentiu a loucura vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.

E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?

E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem nem resignação?


E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes e de outros alienados?

E fazer frente ao impossível atrevidamente
e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe
a ponto do impossível ficar possível?

E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?


Tu Só, loucura, és capaz de transformar o mundo
tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais.
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.

Tudo, excepto tu,
é rotina peganhenta.


Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar.

Sem comentários: