Se me lessem um bocadinho melhor nas entrelinhas, era simples saber que eu vou porque vou, quando me sinto em modo ir, só pelo simples prazer de sentir a terra do chão a caminhar comigo, os pássaros a cantarem para mim e o vento a rodar-me a saia para me fazer sentir como nos filmes da "Joaninha".
Em criança, via repetidas vezes esta cassete, e de cada vez que o fazia, ganhava nos olhos um brilhozinho igual ao da primeira vez. E quando subo lá acima, também é assim.
Não conheço os lugares, apenas os reconheço, mas tenho a certeza que eles me conhecem a mim, porque me guiam sempre pelo caminho certo até ao alto de tudo (o meu topo do mundo, naquele momento). E quando piso aquele rochedo liso, gasto pelo tempo, tiro os pés do chão elevada pela brisa suave do alto da serra, iluminada pelo raio de sol mais quente daquela tarde... percebo que cheguei. Olho à minha volta e vejo tudo, tudo o necessário para tornar aquele momento perfeito.
Os arranhões nas pernas?.. Gosto de olhar para eles como marcas de momentos bons. Sei de cor a origem de cada cicatriz, e relembrá-las traz-me um sorrisinho ao rosto, tolo, de saudades de outros tempos e de velhas aventuras. (Sei que quando os deixar de ganhar com tanta facilidade, quer provavelmente dizer que já não vivo tanto como devia.)
Já o David Fonseca nos dizia em conversa, algures entre dois sonhos:
O que interessa é a viagem, o destino não é importante.
[E, no fim disto tudo, na realidade,
eu nem passei do cimo do meu quintal.]